Saiba mais sobre a dependência química


O que é?
A dependência química é uma síndrome caracterizada pela perda do controle do uso de determinada substância psicoativa. Os agentes psicoativos atuam sobre o sistema nervoso central, provocando sintomas psíquicos e estimulando o consumo repetido dessa substância. Alguns exemplos são o álcool, as drogas ilícitas e a nicotina. A dependência química é considerada uma doença.

Quais os sintomas da dependência química?
§  Tolerância: necessidade de aumento da dose para se obter o mesmo efeito;
§  Crises de abstinência: ansiedade, irritabilidade, insônia ou tremor quando a dosagem é reduzida ou o consumo é suspenso;
§  Ingestão em maiores quantidades ou por maior período do que o desejado pelo indivíduo;
§  Desejo persistente ou tentativas fracassadas de diminuir ou controlar o uso da substância;
§  Perda de boa parte do tempo com atividades para obtenção e consumo da substância ou recuperação de seus efeitos;
§  Negligência com relação a atividades sociais, ocupacionais e recreativas em benefício da droga;
§  Persistência na utilização da substância, apesar de problemas físicos e/ou psíquicos decorrentes do uso.

Qual é a prevalência da dependência química na população?
A dependência química é uma das doenças psiquiátricas mais freqüentes da atualidade.
§  No caso do cigarro, de 25% a 35% dos adultos dependem da nicotina.
§  A prevalência da dependência de álcool no Brasil é de 17,1% entre os homens e de 5,7% entre as mulheres.
§  Cerca de 20% da população já experimentou alguma droga que não álcool ou tabaco. Entre elas, destacaram-se a maconha (6,9%), os solventes (5,8%) e a cocaína (2,3%).
§  Houve uma mudança no perfil dos usuários de drogas pesadas. Diminuiu o número de pacientes que injetam cocaína, ao passo que aumentou a quantidade de usuários do crack.

Existe tratamento para a dependência química? Ele é eficaz?
O uso, reduzido ou suprimido com a terapia, é um dos parâmetros que medem a eficácia, bem como relações familiares e sociais, atividades profissionais, acadêmicas e de lazer e o não envolvimento com a Justiça. Um dos fatores mais importantes para o sucesso do tratamento é a motivação, visto que muitos pacientes não se consideram doentes.
As pesquisas mostram que, após o tratamento da dependência, as recaídas são freqüentes: 50% nos seis primeiros meses e 90% no primeiro ano. Todavia, vale lembrar que se trata de uma doença crônica e que, se avaliada como tal, os resultados da terapia são semelhantes aos de outras enfermidades persistentes, como asma, hipertensão e diabetes. As altas taxas de reincidência não significam que o tratamento seja ineficiente.
Dependentes de drogas que não procuram assistência sofrem mais complicações associadas ao uso, como infecções (inclusive Aids, para os adeptos de drogas injetáveis), desemprego e atividades ilegais. A mortalidade também é maior entre esses indivíduos, causada principalmente por overdose, suicídio e homicídio.


Quais os principais tipos de tratamento para a dependência química?
Há duas abordagens no tratamento da dependência química: a psicoterapia e a farmacoterapia.
§  O modelo psicoterápico mais bem fundamentado é o cognitivo-comportamental, que prevê abstinência da substância, evitação de situações que induzam ao consumo e treinamento para resistir ao uso em circunstâncias que não possam ser evitadas. O tratamento tende a ser mais eficaz se acompanhado por atendimento familiar.
§  Estimula-se também a procura de grupos de auto-ajuda, como Alcoólatras ou Narcóticos Anônimos.
§   A internação é indicada em casos específicos, como risco de suicídio, agressividade, psicose e uso descontrolado da substância, que esteja impedindo a freqüência às consultas.
§  O uso de medicamentos para o tratamento da dependência de álcool tem apresentado bons resultados. Três substâncias já demostraram eficácia em estudos de avaliação:
o    A primeira delas inibe a metabolização do álcool, o que provoca mal-estar, náuseas e alterações hemodinâmicas caso o indivíduo tome bebidas alcoólicas. É adequada para pacientes motivados, que conseguem atingir a abstinência, mas têm dificuldade para mantê-la. A medicação funciona como um inibidor de recaídas, já que o paciente, temendo passar mal, controla seu impulso para beber.
o   Outro medicamento adotado no tratamento diminui o efeito do álcool e, no curto prazo, está associado a um número maior de dias sem beber e quantidades menores de doses quando o paciente bebe.
o   A terceira droga, por sua vez, diminui a excitação exagerada do sistema nervoso central na ausência do álcool.
§  Na dependência de nicotina, o tratamento farmacológico pode ser feito por meio da reposição de nicotina, que diminui sintomas e sinais da abstinência e reduz o risco de recaída nas primeiras semanas. As alternativas existentes são goma de mascar, adesivo, spray e inalador (as duas últimas ainda não estão disponíveis no Brasil). O uso de determinados medicamentos também é eficaz na redução das chances de recaída no primeiro ano de tratamento.
§  Quanto à dependência de cocaína, maconha e inalantes, não há provas suficientes da eficácia de algum medicamento.

Após tratar, o usuário fica curado da dependência química?
Mesmo após o tratamento e a abstinência da substância psicoativa, não se considera o paciente curado. Por muitos anos, talvez indefinidamente, ele irá apresentar maior risco que a população em geral de desenvolver o uso abusivo ou a dependência da substância. Para a maior parte dos dependentes, a abstinência total é a opção mais segura para a doença não retornar. A ampliação do conhecimento sobre o mecanismo de ação da dependência química, sobretudo nas formas de atuação sobre o chamado “circuito da recompensa”, deverá possibilitar o desenvolvimento de medicações cada vez mais específicas para o problema. Outra estratégia que já está sendo testada em seres humanos é o desenvolvimento de vacinas, especialmente para cocaína e nicotina.